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Bipolaridade e sexualidade

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A sexualidade da pessoa que sofre de transtorno bipolar de humor é na minha opinião uma área bastante negligenciada nas pesquisas a respeito deste complexo transtorno. Como psiquiatra e especialista em sexualidade humana, sempre me preocupo com os aspectos sexuais de meus pacientes bipolares e, devido a isso, resolvi escrever a respeito baseado em quase 20 anos de experiência na área.

Como se sabe, o transtorno bipolar é caracterizado principalmente pelas oscilações de humor, energia e nível de atividade que ocorrem ao longo do curso da doença. Tais oscilações variam entre depressão, hipomania, mania e estados ambíguos (mistos), e o funcionamento sexual também costuma seguir essas variações.

Durante os episódios de depressão bipolar sintomas como melancolia, lentificação psicomotora,cansaço e falta de energia costumam ser acompanhados por uma perda significativa da libido. Como depressão bipolar costuma ser o estado de humor mais difícil de tratar, respondendo lentamente aos medicamentos e à psicoterapia, a queda acentuada da libido prejudica a vida amorosa e conjugal, principalmente quando já existem problemas conjugais.

Durante episódios de hipomania e mania, caracterizados por aumento acentuado de energia, aceleração do pensamento, aumento da atividade e busca de novidades, entre outros sintomas, a pessoa com transtorno bipolar costuma apresentar também aumento da libido, as vezes intensamente. Não é incomum que em episódios hipomaníacos e principalmente maníacos, quando a perda da crítica e dos impulsos é grave,  as saias das mulheres fiquem mais curtas, os decotes mais generosos, a maquiagem mais carregada e o comportamento mais sedutor. Nos homens pode ocorrer comportamento sexual inconveniente junto às mulheres e mesmo assédio sexual explicito sobre amigas e colegas de trabalho.

Nos episódios maníacos não é rara a ocorrência de “casos” amorosos, comportamento sexual de risco para DST´S/HIV e gravidez indesejada, com consequências potencialmente dramáticas sobre a vida conjugal/familiar, a saúde e mesmo o trabalho.

Mas a questão da sexualidade da pessoa com transtorno bipolar vai mais além. Em meus vinte anos de prática psiquiátrica já tive a oportunidade de acompanhar pacientes internados devido a surto maníaco, que até então apresentavam comportamento sexual heterossexual, começarem a expressar comportamento francamente homossexual durante o surto, assediando abertamente outros pacientes internados de mesmo sexo biológico. A possível explicação é que tais pacientes ocultavam ou reprimiam sua homossexualidade, mas o surto maníaco aumentou o desejo sexual homossexual e reduziu o controle dos impulsos, levando à manifestação explícita da orientação sexual homossexual.

Outra situação que já presenciei foi a de um paciente com identidade sexual masculina que, em surto maníaco, passou a se vestir com roupas do vestuário feminino e a agir como uma mulher. Mais uma vez, a possível explicação é de disforia de gênero reprimida ou ocultada pelo paciente, que passou a ser expressada abertamente pela perda de controle dos impulsos. Disforia de gênero é o termo médico utilizado quando uma pessoa se sente inadequada em algum grau com seu corpo biológico, mais exatamente com as características sexuais secundárias de seu corpo biológico e com os comportamentos de gênero sexual típicos do sexo biológico.

A disforia de gênero varia desde pessoas com leve desconforto até as pessoas com transexualidade verdadeira, que sentem  que nasceram no corpo biológico errado. São homens e mulheres que sentem que nasceram em um corpo biologicamente errado, invertido quanto ao sexo.

O frequente abuso de álcool e drogas que costuma acompanhar muitos pacientes em episódios maníacos, quando estão hiper sexualizados, predispõe também ao sexo casual sem proteção, trazendo consigo os riscos já citados acima.

Outro aspecto importante da sexualidade da pessoa com transtorno bipolar é a taxa de abandono do tratamento entre pacientes, que chega a 6o% no período de um ano. São vários os motivos de abandono de tratamento, mas um dos motivos mais importantes diz respeito aos efeitos colaterais dos medicamentos, entre eles a redução da libido e a dificuldade de ereção peniana e de lubrificação vaginal que muitos deles ocasionam.

Muitos dos medicamentos para o tratamento do transtorno bipolar provocam ganho de peso, o que gera insatisfação com o corpo, principalmente entre as mulheres, afetando diretamente a autoestima. A consequência mais obvia é a evitação da exposição do corpo, a inibição sexual e sofrimento emocional.

Para encerrar este artigo gostaria de chamar atenção para o fato de que os artigos e livros que abordam o tratamento do transtorno bipolar de humor frequentemente citam os múltiplos objetivos e a importância do tratamento do transtorno para a estabilidade do humor, a qualidade de vida, a prevenção da recaída, a prevenção do uso abusivo de álcool e drogas e do risco de suicídio. Infelizmente a questão da sexualidade costuma ser apenas citada, como se fosse algo de menor importância.

O transtorno bipolar é uma doença grave para a maioria das pessoas que dele sofre, e necessita de tratamento farmacológico sem sombra de dúvida, como atestam inúmeros trabalhos de pesquisa e a experiência clínica, e os efeitos colaterais são comuns e de difícil solução. Devido a isso o tratamento vai muito além de medicamentos e psicoterapia.

Baseado em minha experiência clínica, e em tudo que foi expostos acima, posso afirmar que enquanto a sexualidade da pessoa com transtorno bipolar não for abordada aberta e francamente nas consultas de psiquiatria, pelo próprio psiquiatra, muitos pacientes permanecerão com dúvidas e angústias quanto a sua vida sexual. E a taxa de abandono de tratamento devido a disfunção sexual permanecerá irremediavelmente alta.

Texto de autoria do Dr. Lincoln C.Andrade*. Permitida a reprodução e divulgação desde que citada a fonte (autor e site).

*Dr. Lincoln C. Andrade é médico psiquiatra com residência médica  pelo HC/RP-USP, especializado no atendimento de pacientes em crises emocionais, estresse elevado, medo e pânico. Tem vinte anos de experiência na área. É também especialista em sexualidade humana pelo projeto sexualidade do hospital das clínicas da faculdade de medicina da USP (HC/USP). Agendamento de consultas pelos fones (41) 30391890 e 996437333. 

 “Clínica Dr. Lincoln Andrade, a clínica de tratamento da crise emocional em Curitiba.”

*A clínica Dr. Lincoln Andrade não se destina ao atendimento de pacientes muito agitados, agressivos ou intoxicados por álcool ou drogas, que devem ser atendidos em  pronto-atendimento psiquiátrico hospitalar.