Pessoas com síndrome do Pânico costumam sentir o próprio corpo como se fosse uma espécie de inimigo interno, o corpo representando uma sensação de ameaça constante. O sentimento natural de funcionamento harmônico do corpo deixa de existir, e a pessoa sente como se o corpo não fosse confiável, necessitando de constante vigilância.
O estranhamento do próprio corpo, sua vivência como algo não confiável, leva a um comportamento ambíguo, paradoxal. A pessoa monitora seu corpo em busca de qualquer evidência de que algo não vai bem, mas frequentemente também evita perceber seu corpo, como que para evitar descobrir alguma coisa preocupante em seu funcionamento.
Devido ao fato de se assustar com sinais quase sempre normais de seu corpo, a pessoa com transtorno de pânico vive constantemente ansiosa, o que aumenta a possibilidade de ocorrência de crises de pânico.
Com a ocorrência de novas crises, a pessoa acaba por sentir o aumento do medo e o reforço da crença de que seu corpo não é confiável. Também já não percebe a ação do estresse da vida diária, assim como do estresse constante produzido por seus pensamentos preocupantes, como os verdadeiros desencadeantes das crises de pânico.
Em resumo: a pessoa percebe-se em constante “perigo”, e sente este perigo vindo de dentro dela mesma, de um corpo vivido como não mais confiável. Perde assim a percepção da ação dos fatores externos ao corpo como agentes que contribuem muito para o desencadeamento de crises de pânico. Também perde a percepção de quanta ansiedade costuma produzir devida às constantes preocupações com um possível adoecimento do corpo.
Sem perceber claramente a relação entre o estresse do quotidiano e o efeito emocional negativo de suas frequentes preocupações, preocupações com o risco de vir a sofrer novas crises, a pessoa acredita que muitas dessas crises são totalmente “espontâneas”.
Ao longo deste processo a pessoa vai perdendo a flexibilidade para manejar o medo das crises e as experiências que causam insegurança, permanecendo “engessada” em suas respostas físicas e mentais, o que só faz piorar o quadro clínico.
Portanto, é por demais importante para o sucesso do tratamento do transtorno de pânico ajudar o paciente a conectar mente, corpo e comportamento, para que assim possa recuperar a confiança em seu corpo como um todo.
Texto escrito pelo Dr. Lincoln Cesar Andrade
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*Dr. Lincoln é médico psiquiatra especializado no atendimento de pessoas em crise emocional, estresse elevado, ansiedade e pânico. Mantém em sua clínica o programa CALMA, cujo objetivo é tratar as pessoas que sofrem com a síndrome do pânico em todas as suas necessidades clínicas. Agendamento de consulta pelos fones 30391890 e 996437333.