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Clínica de tratamento em Curitiba para crises emocionais, estresse, ansiedade, pânico, depressão e problemas afetivos e sexuais

Risco de suicídio na compulsão sexual

Quando pessoas famosas são descobertas em seu comportamento sexual fora de controle e passam a ser foco da mídia, são logo rotulados de pervertidos, mentirosos, malandros e outros adjetivos bastante negativos. Esses adjetivos e comentários podem servir bem aos meios de comunicação e à opinião pública, mas não às pessoas com sofrem com dependência de sexo, seus familiares e amigos.

Pessoas com o transtorno do comportamento sexual compulsivo, também conhecido com dependência de sexo, hipersexualidade e comportamento sexual fora de controle, lidam constantemente com estresse, ansiedade e medo de serem descobertos em seus comportamentos sexuais, assim como com a vergonha, culpa e arrependimento,. Não é incomum em nosso trabalho em saúde mental e sexologia ouvir pacientes afirmarem que se sentem “um lixo” após passarem pela fase de descontrole sexual, o que deixa claro o sentimento de desvalorização pessoal e de falta de controle de impulsos que sentem.

Os comportamentos sexuais dessas pessoas, sejam do sexo masculino ou feminino, podem envolver pornografia e masturbação excessiva, múltiplos parceiros sexuais, casos amorosos com pessoas próximas e até íntimas de seus cônjuges, promiscuidade e uso de aplicativos de encontros. Podem até assumir o  risco de contraírem infecções sexualmente transmissíveis devido a prática de sexo sem proteção, assim como transmitirem essas doenças às suas parcerias. Alguns chegam a comportamentos sexuais previstos no código penal, com risco de detenção.

Pesquisas recentes e bem embasadas, inclusive brasileiras, demonstram que aproximadamente 18 a 20% das pessoas com transtorno do comportamento sexual compulsivo tentam suicídio em algum dos tantos ciclos de comportamento sexual fora de controle pelos quais passam, e que até 70% deles pensam em suicídio.  Um fato importante adicional é que esses números são até 4 vezes maiores do que os observados na população geral.

 

Consequências do suicídio efetivado devido a comportamento sexual fora de controle

Além de uma vida perdida, muitas consequências graves decorrem do suicídio dessas pessoas, que passo a listar abaixo:

Em primeiro lugar temos o impacto sobre a parceria da pessoa que se suicidou. Seja um homem ou uma mulher, o impacto é duplamente perturbador e dilacerante emocionalmente sobre a parceria que ficou. Esta sofre devido a perda da pessoa amada por suicídio, algo gravemente impactante, mas também pelo motivo do suicídio, que muitas vezes descobre somente após o suicídio efetivado.

Outra potencial fonte de sofrimento da parceria surge quando o suicídio foi cometido após aquela ter descoberto o comportamento sexual fora de controle de quem se suicidou. Obviamente que após a descoberta, tem início um sem número de discussões e cobranças.  Após o suicídio ter ocorrido, o membro do casal que permaneceu pode desenvolver pensamentos de culpa e arrependimento, frequentemente pensando que se tivesse se calado, fingido que nada tinha acontecido ou aceitado o comportamento, talvez o suicídio não tivesse ocorrido. Mais uma vez trata-se de um duplo sofrimento.

Quando se trata dos filhos, outro drama se apresenta. Filhos pequenos não compreendem o significado do suicídio, podem acreditar que têm alguma culpa, sofrem muito a perda e carregam pela vida a dor e o trauma da perda de um dos genitores na infância. Filhos adolescentes e adultos precisam lidar com a tentativa de entender o comportamento sexual do genitor, com a perda, a vergonha e até raiva e revolta.

Muita dor emocional é o que se espera deste tipo de luto, que tende a ser de muito difícil elaboração devido ao motivo,  além da perda em si. A família pode se sentir publicamente humilhada, tendo que lidar com sentimentos de tristeza e raiva alternadamente.  Traumas emocionais podem ocorrer como consequência direta do evento.

Um dificuldade prática e imediata é a questão financeira, pois o suicida pode ter sido o provedor único da família, e seu suicídio trazer um grande problema quanto a fonte de renda a partir daquele momento.

 

Como lidar com o risco de suicídio?

“Melhor prevenir que remediar”, diz a tão antiga e sempre válida frase. Portanto, caso você ou alguém de seu conhecimento esteja com fortes pensamentos e impulsos suicidas devido a comportamento sexual fora de controle, procure imediatamente conversar com alguém de sua confiança a respeito, ligue para centro de valorização da vida (CVV), procure um pronto-atendimento médico ou um pronto-atendimento psiquiátrico. O objetivo imediato é proteger a vida. Não se deixe abater pelo medo do julgamento ou preconceito alheio, pois trata-se de sua vida e da saúde mental de sua família.

Caso pense em suicídio, mas não tenha impulso nem planejamento imediato, procure um médico psiquiatra. Todo médico psiquiatra bem preparado não vaia emitir julgamento, mas se preocupar em ajudar. Se o psiquiatra conhecer de sexualidade e comportamento sexual fora de controle melhor ainda.

Caso você seja mulher, vai precisar mais ainda vencer seu medo de procurar ajuda. Em meu trabalho com pessoas que sofrem deste tipo de problema, as mulheres entram em contato pedindo informações sobre tratamento com frequência, mas raramente fazem a primeira consulta. Não há dados confiáveis de pesquisa a esse respeito, mas creio que o medo intenso de ter seu comportamento sexual descoberto, mesmo no tratamento, as impede de procurar tratamento.

Para encerrar, gostaria de dizer que o comportamento sexual compulsivo tem tratamento eficaz, desde que o paciente se comprometa de fato com o tratamento, e que mesmo com a dor da descoberta, se for o caso, sua família o quer vivo e bem, mesmo tendo que lidar com esse tipo de problema.

 

*Texto de autoria do Dr. Lincoln Cesar Andrade. Permitida a reprodução e divulgação, desde que citada a fonte (autor e site).

Dr. Lincoln C. Andrade é Especialista em Sexualidade Humana pelo projeto sexualidade (PROSEX), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com quase 16  anos de experiência atendendo pessoas solteiras e casais com problemas afetivos e sexuais. É também médico psiquiatra, com residência médica pelo hospital das clínicas da USP (HC/RP),  especializado no tratamento de pessoas em crise emocional, estresse, ansiedade e pânico.  Agendamento de consultas pelos fones (41) 996437333.