Compulsão sexual e uso abusivo de álcool têm uma relação que pode ser bastante complicada, apesar de um não depender do outro quando se trata de dependência.
No meu trabalho como psiquiatra especialista em sexologia, não é incomum receber pacientes com dependência de sexo que também sofrem com dependência ou uso abusivo de álcool.
Essa relação entre os dois transtornos começa a fazer sentido quando fica claro que o álcool tem o poder de desinibição do controle dos impulsos no cérebro. Com isso a pessoa com dependência fica mais sujeito a agir de acordo com seus impulsos, pois sua capacidade de decisão fica prejudicada.
Considere que o vício em sexo causa vergonha, culpa e arrependimento, sentimentos que também são compartilhados pelos dependentes de álcool. Então, pessoas com vício em sexo podem usar o álcool como uma forma de se anestesiar dessa dor emocional, do mesmo modo que dependentes de álcool o fazem ao aumentar a ingesta de álcool. Obviamente que esse comportamento só agrava o problema.
Do que foi explicado acima, pode-se deduzir que o álcool pode tanto preceder o comportamento sexual compulsivo ao diminuir o controle de impulsos, como pode suceder o comportamento sexual compulsivo para aliviar a culpa, o arrependimento e a vergonha. Uma outra conclusão importante é que pessoas viciadas em sexo podem vir a desenvolver problemas pelo uso de álcool, na dependência, entre outras coisas, da frequência de uso de álcool associado aos comportamentos sexuais.
O diagnóstico de ambos os transtornos não é tão óbvio, pois quem procura tratamento para dependência de sexo não costuma informar ao médico o problema com álcool, e vice-versa. Portanto, cabe ao médico perguntar ao paciente sobre essa associação, assim como sobre outras possíveis patologias associadas. É importante enfatizar que o tratamento para ambas as condições é mais complexo do que para somente uma delas, pois será preciso obter o controle de ambas as patologias.
Caso a pessoa com compulsão sexual tenha problemas com álcool, drogas, outros comportamentos problemáticos ou outros quadros psiquiátricos deverá ser tratada adequadamente para todas as patologias, caso contrário o tratamento poderá falhar, pois diferentes quadros psiquiátricos e sexuais podem interferir no tratamento uns dos outros. O tratamento ideal necessita que se conheça muitos detalhes do funcionamento mental, emocional, relacional e sexual do paciente.
Semelhanças e diferenças no tratamento da compulsão sexual e e uso problemático de álcool
A principal diferença para o tratamento do uso problemático de álcool é que este pode envolver sua saúde de modo mais amplo, podendo necessitar de tratamento da síndrome de abstinência alcoólica (SAA), na dependência da gravidade do alcoolismo. Na é foco deste artigo a descrição da SAA, que pode ser facilmente encontrada na internet. Dependendo da gravidade do alcoolismo, o paciente pode fazer desintoxicação sem internação, mas pacientes com histórico importante de SAA podem necessitar desintoxicação em ambiente hospitalar.
Quanto as semelhanças, o tratamento de ambas as patologias pode envolver o uso de medicamentos, psicoterapia, controle do comportamento e prevenção de recaída, inclusive grupos de apoio, como AA e DASA. Quanto mais grave o problema, mais modalidades de tratamento podem ser necessárias, incluindo a parceria no tratamento sempre que possível ou desejável.
Como sempre, os requisitos mais importantes para um tratamento bem sucedido é o disposição e o comprometimento com o tratamento, o compromisso genuíno com o enfrentamento do problema, sem se deixar vencer pelo medo do julgamento externo. Ainda assim o controle do comportamento não será fácil, mas será uma questão de tempo para chegar lá.
*Texto de autoria do Dr. Lincoln Cesar Andrade. Permitida a reprodução e divulgação, desde que citada a fonte (autor e site).
Dr. Lincoln C. Andrade é Especialista em Sexualidade Humana pelo projeto sexualidade (PROSEX), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com quase 16 anos de experiência atendendo pessoas solteiras e casais com problemas afetivos e sexuais. É também médico psiquiatra, com residência médica pelo hospital das clínicas da USP (HC/RP), especializado no tratamento de pessoas em crise emocional, estresse, ansiedade e pânico. Agendamento de consultas pelos fones (41) 996437333.
