Adolescentes e adultos jovens têm como característica sentir tédio com certa facilidade e buscar novidades com frequência. Quando se trata de acesso à pornografia isso pode se tornar complicado e conduzir a vários problemas, entre eles confusão e dúvidas sobre preferências sexuais.
Quando acessam muita pornografia, e por tempo excessivo, adolescentes e jovens podem se habituar a estímulos sexuais vistos em vídeos de práticas sexuais convencionais. Assim, podem começar a acessar conteúdos que anteriormente não eram excitantes e por vezes eram desagradáveis. A repetição desses acessos pode levar o cérebro desses jovens a se adaptar a esses conteúdos (plasticidade cerebral) e a erotizá-los. Mulheres e homens de meia idade ou mais velhos não estão livres desse processo de erotização.
Os menus dos sites pornográficos são muito amplos, e englobam sexo com teenagers, universitárias, mulheres e homens casados, idosos, obesos, menage a trois, swing, orgias, sexo com animais, pedofilia, sexo com travestis, com homens e mulheres trans, comportamento crossdresser, BDSM, sexo violento, estupro coletivo, incesto, etc.
Quando pessoas começam a ter problemas pelo uso excessivo de pornografia podem vir a apresentar dúvidas a respeito de sua orientação sexual, sua identidade de gênero sexual e sobre sua sanidade mental. Alguns se perguntam se são pervertidos. Como já comentei em outros artigos, muitos podem desenvolver baixa libido ou não ter desejo por pessoas reais ou práticas sexuais convencionais. Muitos não conseguem se excitar sem pornografia, assim como não conseguem atingir o orgasmo.
Em nossa prática diária de trabalho na interface entre sexologia e saúde mental, atendemos pessoas com as seguintes dúvidas:
Sou sexualmente normal ou pervertido?
Estarei descobrindo minha verdadeira sexualidade?
Homens heterossexuais se espantam com o fato de começarem a se interessar por pênis e por vídeos de sexo gay, ou por vídeos com homens usando peças femininas do vestuário. Mulheres heterossexuais ficam intrigadas por passarem a considerar relações íntimas com mulheres. Homens homossexuais se excitam com vídeos de sexo heterossexual e erotizam o corpo feminino. Já atendi casos de pessoas em pânico ao se sentir excitadas após assistir um vídeo com conteúdo de pedofilia e ficarem obsessivamente se questionando se eram pedófilas.
Pessoas de ambos os sexos podem vir a ficar confusas com sua orientação sexual e identidade sexual; alguns pensam sofrer de TOC de orientação sexual ou mesmo de TOC trans. Como já foi dito acima, ambos os sexos podem vir a desenvolver disfunção sexual com pessoas reais.
Finalmente, vale lembrar que quando um material de conteúdo pornográfico gera ansiedade devido ao seu caráter não convencional, hardcore, o cérebro da pessoa que assiste o vídeo pode fazer um link entre ansiedade e excitação sexual.
Muitas dessas pessoas somente conseguem sentir desejo e se excitar com imagens mentais de práticas sexuais hardcore que viram muitas vezes nos sites pornográficos na internet.
Caso você esteja sofrendo devido a alguma das condições acima e perceba que precisa de ajuda profissional, não se deixe vencer pelo medo de se expor, de ser julgado. Procure um profissional experiente em saúde mental e sexologia para recuperar sua saúde sexual e mental.
Texto de autoria do Dr. Lincoln Cesar Andrade, baseado no livro Your Brain on Porn, 2017, Gary Wilson. Permitida a reprodução e divulgação, desde que citada a fonte (autor e site).
Dr. Lincoln C. Andrade é Especialista em Sexualidade Humana pelo projeto sexualidade (PROSEX), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com quase 16 anos de experiência atendendo pessoas solteiras e casais com problemas afetivos e sexuais. É também médico psiquiatra, com residência médica pelo hospital das clínicas da USP (HC/RP), especializado no tratamento de pessoas em crise emocional, estresse, ansiedade e pânico. Agendamento de consultas pelos fones (41) 996437333.