Manter um relacionamento afetivo e sexual gratificante é um desafio para qualquer casal, mas para casais nos quais um dos membros sofre de transtorno afetivo bipolar (TAB) esse desafio pode ser muito maior.
Os diferentes ciclos de humor afetam a expressão e os comportamentos afetivos e sexuais de diferentes maneiras. Quando em hipomania ou mania, a pessoa com TAB pode ter a libido muito aumentada, até mesmo se tornar hipersexual transitoriamente, o que vem acompanhado de redução ou perda do controle de impulsos. Com isso, essa pessoa pode se tornar sedutora, se insinuar sexualmente, se expor socialmente diante de colegas, amigos e familiares, inclusive causando constrangimento à parceria. Pode também se envolver em relações afetivas e sexuais com outras pessoas, com risco aumentado de infecções sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. Esses comportamentos podem trazer consequências muito graves para o relacionamento, podendo mesmo levar à ruptura do mesmo. Ao sair do ciclo maníaco ou hipomaníaco surge então a culpa e o arrependimento, com grande estresse conjugal e social.
Quando em episódio depressivo, a expressão afetiva da pessoa com TAB se torna muito pobre geralmente, e a libido costuma se tornar muito baixa ou inexistente, levando a desconexão afetiva e sexual do casal. Como os períodos depressivos tendem a ser muito mais longos do que de mania ou hipomania, essa desconexão afetivo-sexual tende a ser muito prejudicial ao relacionamento.
Quando a pessoa com TAB entra em estado misto de humor, caracterizado pela mistura de sintomas depressivos e de hipomania ou mania, o humor tende a ficar muito ácido, com irritabilidade alta, angústia, inquietação, raiva, comportamento explosivo e até violento, frequentemente dirigido à parceria. Assim o relacionamento é muito afetado, as vezes de modo irremediável.
Outro fator que pode impactar os relacionamentos é o impacto dos medicamentos sobre a resposta sexual da pessoa com TAB. Muitos dos medicamentos para o tratamento do TAB podem causar redução acentuada da libido, disfunção erétil e anorgasmia, prejudicando a vida sexual e afetiva do casal. Esse impacto pode levar ao abandono do tratamento. o que conduz à perpetuação da instabilidade de humor.
Um dos grandes problemas do impacto do TAB sobre a vida afetiva e sexual do casal é o silêncio do paciente e do médico psiquiatra sobre o assunto, quando o paciente não relata ao médico e o médico não pergunta sobre a vida sexual e afetiva do paciente. Muitos médicos não perguntam sobre a vida sexual do paciente e da parceria por não dominarem assuntos sobre sexualidade humana. Seja como for, esse diálogo é muito importante para melhorar e reforçar a vida íntima do casal.
E o que fazer ao passar por alguma das situações acima citadas?
Em primeiro lugar nunca abandonar o tratamento do TAB, pois isso só torna tudo pior. Comente sempre com seu médico as dificuldades que está enfrentando. Caso seu médico minimize a situação ou ignore as suas queixas, considere se não seria melhor procurar outro profissional. Resolver problemas de ordem sexual no TAB raramente é fácil, mas sempre é possível melhorar, seja pela troca de algum medicamento, seja por orientações que podem produzir uma mudança bastante positiva na intimidade do casal. problemas crônicos de relacionamento afetivo podem demandar terapia de casais, assim como problemas sexuais não diretamente ligados ao TAB podem demandar terapia sexual.
Texto de autoria do Dr. Lincoln C. Andrade
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Dr. Lincoln C. Andrade é médico psiquiatra, com residência médica pelo Hospital das Clínicas da USP (HC/RP), especializado no tratamento de pessoas em crise emocional, estresse, ansiedade e pânico. Tem mais de 20 anos de experiência no tratamento do transtorno bipolar. É também Especialista em Sexualidade Humana pelo Projeto Sexualidade (PROSEX), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com quase 15 anos de experiência atendendo pessoas solteiras e casais com problemas afetivos e sexuais. Agendamento de consultas pelos fones (41) 996437333.