Uma das piores consequências do “Uso problemático de pornografia” (UPP) é o isolamento social que ele provoca. Pessoas que fazem UPP se afastam progressivamente das pessoas e do mundo real.
Usuários de pornografia frequentemente justificam o uso dizendo que é apenas uma forma fácil de aliviar seu desejo sexual, mas não percebem ou não admitem que o UPP exige que mantenham esse comportamento sempre em segredo e a necessidade de mentir para a parceria e para outras pessoas. A necessidade de privacidade é cada vez maior para que possam acessar pornografia pelo tempo que necessitam ou por se sentir compelidos a isso. Portanto, quanto mais tempo gasto com pornografia, maior o afastamento de outras atividades, inclusive sociais e relacionais.
Muito tempo, energia e dinheiro são retirados da vida social e de relacionamento com a parceria e com a família e filhos em função da pornografia, e assim as pessoas com UPP deixam de sair com amigos, de convidar parcerias em potencial para sair e ficam cada vez mais em uma vida virtual de autoerotismo, se excitando e se masturbando. Na prática de medicina sexual vemos cada vez mais pessoas, cada vez mais jovens, acessando pornografia em excesso. Já tivemos pacientes que ficavam mais de 10 horas por dia vendo pornografia e se masturbando.
Muitas pessoas que fazem uso problemático de pornografia temem ser jugados negativamente ou mesmo ser rejeitados por uma parceria em potencial caso sejam descobertos em seu comportamento. Temem também que a parceria exija que abandonem a pornografia, que precisem manter o segredo e ser desonestos. Com isso acabam evitando sair com parcerias de “carne e osso” e se enredando cada vez mais em uma vida virtual.
Outro aspecto importante do UPP é que o comportamento conduz cada vez mais ao autoerotismo, à valorização do controle total das imagens excitantes, do controle masturbatório e da intensidade do orgasmo. Com isso parcerias reais acabam parecendo pouco interessantes, dispendiosas e exigentes. A resultante é mais tempo de isolamento social e relacional.
Finalmente, o uso de pornografia precocemente pode vir a dificultar o desenvolvimento de habilidades psicossexuais e sociais próprias da maturação do adolescente e do jovem como indivíduo afetivo e sexual. Características como empatia, carinho, afetividade e sensibilidade podem ficar embotadas. Além disso, o que esses adolescentes e jovens aprendem com a pornografia pode levá-los a agir com a parceria como se essa fosse não um sujeito, mas um objeto sexual, e a prática sexual buscada pode estar de acordo com o sexo pornográfico observado nos sites de pornografia.
Caso perceba que está sofrendo dos problemas acima e que não consegue sair desse ciclo de dependência, procure tratamento especializado com profissionais experientes em saúde mental e sexual. Não permita que o medo do julgamento o impeça de buscar ajuda e se liberte dessa prisão.
Texto de autoria do Dr. Lincoln c. Andrade. Permitida a reprodução e divulgação desde que citada a fonte (autor e site).
Dr. Lincoln C. Andrade é Especialista em Sexualidade Humana pelo projeto sexualidade (PROSEX), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com quase 16 anos de experiência atendendo pessoas solteiras e casais com problemas afetivos e sexuais. É também médico psiquiatra, com residência médica pelo hospital das clínicas da USP (HC/RP), especializado no tratamento de pessoas em crise emocional, estresse, ansiedade e pânico. Agendamento de consultas pelos fones (41) 996437333.