Devido a tantos casos de feminicídio noticiados recentemente pela imprensa, vou esclarecer o significado desse termo e comentar um pouco sobre minha experiência profissional com casos de ciúmes e risco de feminicídio.
O termo feminicídio, segundo a defensoria pública do estado do Rio de Janeiro, em matéria publicada em O GLOBO de 10.11.2017, refere-se ao assassinato doloso de mulheres, quando a mulher é morta por alguém motivado pelo sentimento de propriedade sobre ela, quando um homem buscou se vingar após ter sofrido uma rejeição ou por alguém que nutria ódio por ela pelo simples fato de ser mulher. Ou seja, motivação do crime é o que diferencia o feminicídio de outros tipos de assassinato cometidos contra mulheres.
Segundo dados do Ministério Público de São Paulo, publicado no início deste ano, aproximadamente 30% dos feminicídios que ocorreram no último ano naquele estado foram realizados por seus maridos e motivados pelo ciúme.
Quem acompanha meus artigos sobre relacionamento amoroso e sexualidade sabe que escrevo bastante a respeito de ciúmes e sobre os graves riscos de violência que esse intenso estado emocional pode acarretar, principalmente contra mulheres, mas também contra homens eventualmente (para saber mais leia meus artigos sobre ciúme e desconfiança em www.lincolnandrade.com.br).
Nos meus quinze anos de trabalho atendendo crises emocionais de origem amorosa e sexual, já testemunhei todo tipo de situação envolvendo sentimento de posse e ciúmes, inclusive alguns poucos casos de mulheres que colocaram seus parceiros homens em risco.
De agressões verbais e físicas a ameaças de morte e tentativas de homicídio e suicídio ligados a ciúmes ou término de relacionamento amoroso, já tive pacientes em que temi intensamente um desfecho trágico. Tal situação costuma ser mais frequente quando a mulher vive um relacionamento claramente abusivo e finalmente toma a atitude de se separar. Nessa situação, um marido intimidador e violento intensifica a opressão, aumenta as ameaças e finalmente as agressões.
Já tive pacientes cujos maridos estevam impedidos legalmente de se aproximarem das suas mulheres, mas faziam ameaças por whatsapp e telefonemas. Diante de nova denúncia na delegacia da mulher nenhuma ação era tomada pelas autoridades, e as mulheres se sentiam absolutamente inseguras, apavoradas, abandonadas pela lei que prometia protegê-las. Tive pacientes que precisaram se mudar para casa de parentes distantes sem poder levar os filhos.
Portanto, fica aqui um alerta importante: homens abusivos raramente se tornam abusivos após o casamento, mas, ao contrário disso, as histórias de minhas pacientes deixam claro que na maioria dos casos o desrespeito e certa violência já ocorria nos tempos de namoro, e a mulher frequentemente se perguntava se não seria melhor terminar o relacionamento antes que se tornasse mais sério.
Um bom relacionamento amoroso tem como objetivo a complementariedade e o crescimento de ambos os parceiros, para a construção de uma vida em comum com qualidade e de uma família feliz, tudo que um relacionamento abusivo jamais permitirá que ocorra!
Texto de autoria do Dr. Lincoln C. Andrade
Permitida a reprodução e divulgação desde que citada a fonte (autor e site)
Dr. Lincoln C. Andrade é médico psiquiatra, com residência médica pelo HC/USP, especializado no atendimento de pessoas em crise emocional, estresse, ansiedade e pânico. Tem vinte anos de experiência no atendimento de pessoas em crise emocional de qualquer origem. Agendamento de consultas pelos fones (41) 30391890 e 996437333.
“Clínica Dr. Lincoln Andrade, a clínica de tratamento da crise emocional em Curitiba.”
*A clínica Dr.Lincoln Andrade não se destina ao atendimento de pacientes muito agitados, agressivos ou intoxicados por álcool ou drogas, que devem ser atendidos em pronto-atendimento psiquiátrico hospitalar.