Dados do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) informam que em 2012 os gastos com auxílio doença concedidos por transtornos mentais ultrapassou R$ 218 milhões.
Chama a atenção o número de trabalhadores afastados e o valor das indenizações, porém para profissionais de saúde mental tais dados não chegam a causar espanto, visto que estão acostumados com queixas de seus pacientes relacionadas a sofrimento mental causado por estresse no trabalho.
Qual a razão para tamanho gasto do INSS com auxílio doença por transtornos mentais? Seguem abaixo muitas razões que se sobrepõem como causa de afastamentos do trabalho por problemas de saúde mental:
- Pressão excessiva por desempenho
- Sobrecarga de trabalho
- Metas cada vez maiores a atingir
- Falta de respeito
- Falta de reconhecimento do esforço do trabalhador
- Controle rigoroso de horários (as vezes até para ir ao banheiro)
- Poucos ou muito curtos intervalos durante a jornada de trabalho
- Ameaças constantes de demissão
- Assédio moral
Há ainda muitas outras formas de desumanização do ambiente de trabalho, que isoladas ou em conjunto podem conduzir a necesidade de afastamento do trabalho. Hoje em dia é comum ouvir expressões como “dar o sangue pela empresa”, o que diz muito a respeito de relações de trabalho complicadas.
Produtividade é uma meta que deve ser perseguida, mas o que se percebe hoje é que os responsáveis pela gestão de grande parte das empresas parece querer do funcionário algo além daquilo que seu corpo e mente permitem, resultando disso quadros como síndrome de burnout (esgotamento profissional), Transtorno de pânico, transtorno de estresse pós-traumático e um sem número de diferentes caso de Transtornos de somatização, frequentemente levando pessoas ao afastamento do trabalho.
Não é incomum em minha prática médica diária, no atendimento de psiquiatria ocupacional e do trabalho, a necessidade de afastamento do trabalho de pacientes em estado de exaustão e adoecimento emocional devido a sobrecarga física e mental no exercício de sua ocupação.
Para que o excesso de demanda do trabalhador seja aliviado é preciso que gestores sejam ensinados sobre os sinais que indicam que a pessoa está a beira do limite, e que tais limites sejam respeitados, lembrando ainda que a capacidade de enfrentamento do estresse varia de pessoa para pessoa.
Infelizmente parece que muitos gestores, de muitas empresas, parecem nunca entender que a partir de um certo nível de exigência o que se obtém não é aumento de produtividade, mas funcionários estressados, adoecidos, faltas ao trabalho, afastamentos, demissões e problemas trabalhistas.
Texto do Dr. Lincoln Cesar Andrade
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