A falta de adesão ao tratamento de doenças crônicas em geral chega a quase 50% dos pacientes, o que não é diferente para pessoas em tratamento do transtorno bipolar de humor.
As causas de falha e não adesão ao tratamento do transtorno bipolar são muitas, e serão citadas abaixo as causas mais frequentes citadas na literatura e observadas por mim no consultório:
- Condição intermitente dos sintomas, que ocorrem em ciclos, havendo fases em que o paciente não se sente afetado e acredita poder deixar de tomar os medicamentos
- Não acreditar no diagnóstico: por se tratar de um transtorno complexo, de difícil compreensão pelas pessoas, cujo diagnóstico é baseado em sintomas e sem exames específicos para confirmação diagnóstica, muitos pacientes não aceitam o diagnóstico e acabam retardando o tratamento adequado.
- Não tomar os medicamentos conforme prescritos pelo médico, com o paciente fazendo ajustes por conta própria tanto na dose quanto na frequência de uso dos mesmos
- Não acreditar na necessidade de uso contínuo de medicamentos: assim como ocorre em outras doenças crônicas, a pessoa com transtorno bipolar de humor costuma tentar se manter sem uso de medicamentos em muitos diferentes momentos, até perceber por si mesmo que o uso correto dos medicamentos é fundamental para sua qualidade de vida
- Abandono do uso dos medicamentos: pesquisas mostram taxas elevadas de abandono do uso dos medicamentos entre pacientes bipolares
- Insatisfação do paciente com o resultado do tratamento e com os medicamentos em uso
- Efeitos colaterais prejudiciais de alguns medicamentos, entre eles ganho de peso, disfunção sexual, sonolência e prejuízo na concentração, entre outros.
- Idade do paciente e tempo de vida com o transtorno bipolar e seus sintomas
- Gênero sexual: os efeitos colaterais dos medicamentos são avaliados de modo diferente de acordo com o gênero sexual
- Suporte familiar: pacientes sem suporte familiar adequado costumam sofrer muito mais em função dos sintomas e da falta de estrutura de tratamento adequada
- Estigma psiquiátrico: apesar de estarmos no século 21, parte significativa da população ainda tem uma impressão da psiquiatria compatível com práticas do século 19, com seus muros altos, suas camisas de força e sedação excessiva, o que a TV e o cinema se encarregam de reforçar. Doenças mentais frenquentemente são foco de piadas, e a ideia de doença mental ainda assusta pacientes, familiares e amigos.
- Abuso de álcool e drogas: frequentes entre pessoas que sofrem de transtorno bipolar, o abuso de álcool e drogas leva ao abandono de tratamento, à falha na resposta aos medicamentos e aumenta o risco de suicídio.
- Relação médico -paciente superficial ou ruim.
- Tratamento baseado somente em remédios, incompleto, sem os demais componentes de um tratamento adequado
- Falta de informação sobre a doença: o desconhecimento da doença é certamente um dos grandes obstáculos a aceitação do diagnóstico e do tratamento, e as informações obtidas pela internet podem ajudar mas também atrapalhar e confundir mais o paciente e seus familiares.
Eu poderia listar aqui muitos outros motivos de falha ou abandono de tratamento, mas prefiro lembrar aos leitores que o transtorno bipolar é grave, provoca muitos prejuízos na vida do paciente e que o tratamento vai muito além do uso de medicamentos, envolvendo desde a educação para a doença até orientações à família, passando por muitos outros cuidados que serão foco de outros artigos.
Texto de autoria do Dr. Lincoln Cesar Andrade*
Permitida a reprodução e divulgação desde que citada a fonte (autor e site)
*Dr. Lincoln é médico psiquiatra especializado no atendimento de pessoas em crise emocional, estresse grave, medo e pânico. Oferece um programa específico para o tratamento adequado da pessoa com transtorno bipolar de humor. Agendamento de consultas pelo Fone/Whatsapp (41)99643-7333.
“Clínica Dr. Lincoln Andrade, a clínica de tratamento da crise emocional em Curitiba.”
*A clínica Dr. Lincoln Andrade não se destina ao atendimento de pacientes muito agitados, agressivos ou intoxicados por álcool ou drogas, que devem ser atendidos em pronto-atendimento psiquiátrico hospitalar.