O desejo sexual, assim com as demais fases da resposta sexual humana, foi estudado detalhadamente por Master and Johnson, nas décadas de 1960 e 1970. Em seus estudos eles estabeleceram o que ficou conhecido como as fases da resposta sexual humana e aceito como modelo único durante décadas. Neste modelo eles definiram uma sequência contínua de eventos sexuais que tinham início com o desejo sexual espontâneo, seguido da resposta de excitação, orgasmo e resolução. Este modelo foi aceito tanto para homens quanto para mulheres.
Em 2001 Rosemary Basson, uma pesquisadora canadense, apresentou uma nova proposta de ordenação das fases da resposta sexual humana, que segundo ela era mais comum para as mulheres. Neste modelo, o desejo sexual não necessariamente seria a primeira fase da resposta sexual humana. A mulher poderia estar em uma condição sexualmente neutra e então receber carinho, atenção, toque físico, se excitar fisicamente e só então sentir desejo sexual, uma forma de desejo conhecido hoje com desejo sexual responsivo.
Portanto, dois tipos de desejo sexual são atualmente considerados : espontâneo e responsivo, sendo o responsivo preponderante em mulheres. Acontece que na prática do dia a dia de profissionais que trabalham com sexualidade masculina percebe-se uma frequência significativa de casos de homens que apresentam o desejo sexual responsivo com o mais comum ou que ocorre muito frequentemente.
Talvez isso se deva ao mundo moderno estressante e acelerado, que faz com que homens e mulheres cheguem em casa esgotados após um longo dia de trabalho, muitas vezes ansiosos, estressados e sem desejo sexual. Porém, quando acolhidos, recebidos com afeto e carinhos físicos podem se sentir excitados e em seguida observarem o desejo sexual aparecer.
Em minha prática profissional diária, um situação em que costumo observar desejo responsivo masculino é quando o paciente necessita de proximidade, intimidade e conforto diante da mulher para se sentir ligado sexualmente. Nesses homens, o conforto da intimidade afetiva associado ao contato físico produz excitação seguida de desejo sexual responsivo.
Independentemente do tipo predominante de desejo em homens e mulheres, é muito importante saber que ambos os gêneros sexuais podem apresentar os dois tipos de desejo, evitando assim o mito de que o desejo sexual de verdade precisa ser sempre espontâneo, e que o desejo responsivo seria falta de interesse sexual.
Texto de autoria do Dr. Lincoln C. Andrade. Permitida a reprodução desde que citada a fonte e autor.
Dr. Lincoln C. Andrade é Especialista em Sexualidade Humana pelo projeto sexualidade (PROSEX), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com quase 16 anos de experiência atendendo pessoas solteiras e casais com problemas afetivos e sexuais. É também médico psiquiatra, com residência médica pelo hospital das clínicas da USP (HC/RP), especializado no tratamento de pessoas em crise emocional, estresse, ansiedade e pânico. Agendamento de consultas pelos fones (41) 996437333.