“Qualquer pessoa está sujeita a inúmeros fatores geradores de estresse ao longo da vida, mas a população LGBT, composta por gays, lésbicas, transexuais e transgênero, está sujeita a fatores estressores próprios de sua vida afetivo-sexual.”
De que maneira gays e lésbicas estão mais sujeitos ao estresse do que a população em geral?
Adolescentes e adultos com orientação sexual homossexual, como gays e lésbicas, que sentem atração afetivo-sexual por pessoas do mesmo sexo biológico, ou com orientação bissexual, que sentem atração afetivo-sexual por pessoas de ambos os sexos, precisam enfrentar o peso da homofobia de familiares, amigos, escola e sociedade quando buscam viver abertamente sua sexualidade. Muitos nunca conseguem, outros sequer tentam “sair do armário”. Alguns tentam adotar uma vida heterossexual, muitos vivem uma vida dupla, de fachada, casando e tendo filhos, mas mantendo relações homoafetivas ocultas.
Tanto pessoas heterossexuais como homossexuais investem tempo e energia em estudos e desenvolvimento profissional no seu ciclo de vida, mas gays, lésbicas e bissexuais gastam muito energia emocional para lidar com a homofobia. Isso frequentemente determina problemas de saúde mental derivados da exposição a estresse intenso e constante. Como exemplo podemos citar ansiedade crônica, depressão, abuso de substâncias, revolta, raiva e indignação.
E quanto aos transexuais e transgênero, de que maneira o estresse a que estão sujeitos se diferencia do estresse sofrido por gays e lésbicas?
Por outro lado, e geralmente desde a infância, algumas crianças se sentem pertencentes ao gênero oposto. São meninos que se sentem meninas e vice-versa, crescendo com a sensação de que nasceram no corpo errado. Outras ainda se sentem ao mesmo tempo homem e mulher, o caso dos travestis, ou se sentem muito bem e se excitam ao vestir roupas do sexo oposto (travestismo fetichista). Essa é a situação das pessoas que na adolescência e vida adulta são chamadas transexuais e transgênero. O termo “transgênero” se refere a uma classificação extensa de variantes da identidade sexual, envolvendo aspectos biológicos, psicológicos e mesmo ideológicos.
Transexuais e transgênero sofrem desde a infância uma forte carga de estresse ao enfrentar atitudes que refletem rejeição paterna e materna, atitudes essas que variam de repreensão verbal a castigos físicos ao buscarem brinquedos e brincadeiras próprias do sexo oposto. Esse é o caso, por exemplo, do menino que só quer se vestir com roupas de cor rosa e brincar com meninas e com bonecas. Na adolescência grande parte abandona a escola por não suportar o bullying, e muitos fogem de casa com o objetivo de buscar viver de acordo com seu sentimento de identidade sexual.
A idade adulta de transexuais e transgêneros costuma ser marcada por constante sofrimento devido a transfobia, desemprego, violência, vida “nas sombras”. Com muita freqüência conseguem trabalho somente em salões de beleza e na prostituição, sofrendo segregação evidente. Grande parte dessas pessoas sofre de depressão, ansiedade, estresse traumático e abuso de álcool e drogas como consequência da altíssima carga de estresse a que estão sujeitos.
Ideação suicida, tentativas de suicídio e suicídio efetivado são bem mais frequentes nesta população do que na população geral (vide artigo “Suicidio de adolescentes LGBT” neste site).
Curitiba é diferente de outras capitais quanto a homofobia e a transfobia?
No atendimento diário em nossa clínica, ao longo de muitos anos, temos testemunhado o sofrimento e procurado ajudar as pessoas pertencentes à população LGBTT a lidar com a pesada carga de estresse e distúrbios emocionais secundários ao estresse a que estão sujeitos devido ao preconceito.
É importante lembrar que geralmente o sofrimento não se origina da orientação homossexual ou da identidade sexual discordante do sexo biológico, mas sim deriva da homofobia e transfobia.
Entre as capitais brasileiras, Curitiba não é nenhuma exceção quanto à homofobia e a transfobia. Em nosso programa de atenção a problemas afetivos e sexuais (On Love) temos atendido e tratado pessoas que pertencem à comunidade LGBTT e que sofrem de problemas emocionais de toda ordem ligados ao preconceito.
De depressão à ideação suicida, de problemas psicológicos ligados a autoaceitação até ansiedade elevada, todo espectro de problemas de saúde mental ligados ao preconceito pode atingir a pessoa pertencente à comunidade LGBTT.
Gostaria de concluir este artigo dizendo que todos os seres humanos buscam se afastar do sofrimento e obter satisfação e felicidade em suas vidas. Essa busca da felicidade, que é um objetivo comum à todos nós, tem sido negado sistematicamente à população LGBTT devido ao preconceito.
Texto de autoria do Dr. Lincoln C. Andrade*
Liberada a reprodução e divulgação desde que citada a fonte (autor e site)
*Dr. Lincoln Cesar Andrade é médico psiquiatra especialista em sexualidade humana pelo hospital das clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Criou e mantém em sua clínica o programa On Love, especializado no tratamento de pessoas que sofrem por problemas ligados ao amor e à sexualidade. Agendamento de consultas pelos fones (41) 30391890 e 996437333.