Neste artigo vou abordar questões sexuais “fora do padrão”, diferentes de queixas comuns, que atendo no dia a dia do On Love, meu programa de atendimento clínico na área das relações amorosas.
Uma situação de consulta que surge eventualmente em meu consultório é a da mulher cujo marido busca atividades sexuais conhecidas como “parafílicas” no vocabulário da sexologia. Parafilia se refere ao desejo sexual despertado por fantasias, situações, partes do corpo ou objetos não diretamente ligados aos aspectos sexuais normalmente associados à atração sexual. Antigamente a parafilia era conhecida como perversão do desejo sexual, termo atualmente em desuso na sexologia.
Alguns exemplos de parafilia, e elas são em grande número e diversidade, envolvem homens que se excitam ao se vestirem com alguma peça do vestuário feminino (travestismo fetichista), ao exibirem seus órgãos sexuais para uma pessoa desconhecida (exibicionismo) ou observar pessoas em sua intimidade sexual (voyeurismo). Nesses casos o que incomoda as mulheres, além do comportamento sexual do homem, é o fato de que ele somente consegue se excitar sexualmente de modo intenso ao colocar em ação sua necessidade parafílica. Muitos homens não têm interesse sexual na parceira sem que a parafilia seja colocada em prática durante o ato sexual.
Outra queixa feminina que atendo eventualmente envolve dúvidas quanto a orientação sexual ou a identidade de gênero sexual do parceiro. Trata-se, por exemplo, de mulheres que desconfiam do baixo interesse sexual do marido, que por acaso descobrem que ele assiste pornografia homossexual na internet ou mesmo ficam desconcertadas quando o marido pede para usar alguma peça do vestuário feminino para dormir ou para o ato sexual.
Muitas dessas mulheres chegam ao consultório bastante angustiadas, algumas em crise emocional, principalmente devido a falta de explicações de seus maridos a respeito do comportamento sexual. Neste caso meu trabalho tem início com uma longa explicação sobre o comportamento sexual humano.
Obviamente que variantes sexuais não convencionais não são exclusividade masculina, mas por razões principalmente biológicas elas ocorrem predominantemente em homens.
A verdade é que o comportamento sexual humano é muito mais complexo do que a maioria das pessoas imagina, e as variantes sexuais envolvem a orientação sexual, identidade de gênero sexual, fantasias, desejos e condutas sexuais. Infelizmente, as normas religiosas, culturais e sociais muitas vezes tendem a negar essa realidade.
O desconhecimento das possibilidades e variantes sexuais (entre elas as parafilias) pode causar muito sofrimento quando um membro do casal descobre, por acaso, um comportamento do parceiro que considera anormal ou mesmo bizarro. Por sua vez, a pessoa com comportamento sexual “fora do padrão”, da conformidade, frequentemente esconde sua necessidade sexual de seu parceiro devido ao medo do julgamento, de ser rejeitado ou mesmo por não entender o motivo de tal variante.
Caso o (a) leitor (a) deste artigo esteja sofrendo devido a descoberta de comportamento sexual inesperado do parceiro, não se desespere nem tome atitude precipitada. Procure orientação e aconselhamento profissional a respeito. Caso seja o leitor quem tem o comportamento sexual “diferente”, vale o mesmo conselho.
Texto de autoria d0 Dr. Lincoln Cesar Andrade*
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*Dr. Lincoln é médico psiquiatra e especialista em sexualidade humana pela faculdade de medicina da USP. Mantém em sua clínica o programa On Love, especializado no tratamento de sofrimento emocional causado por problemas amorosos e sexuais em Curitiba. Para agendamento de consultas ligue (41) 30391890 e (41) 996437333.