Cybersex é uma modalidade de atividade sexual mediada por computadores, via internet, que não inclui o contato físico. Neste artigo, a dependência de sexo virtual se refere à dependência de pornografia associada quase totalmente à práticas sexuais interativas, e também à compulsão sexual que se limita ao sexo virtual. Lembro desde já que uma pessoa pode ser dependente de sexo virtual, de sexo que inclui contato físico com outras pessoas ou de ambas as modalidades.
Antes de abordar o assunto, vou incluir aqui alguns dados estatísticos sobre conteúdo sexual na web. Pesquisas bem conduzidas demonstram que aproximadamente 4% dos websites da internet são de conteúdo sexual, 10% do conteúdo total envolve sexo e e 10 a 15% dos acessos diários de busca são sobre conteúdo sexual. Pesquisas também apontam que aproximadamente 60% dos homens entre 18 e 34 anos veem pornografia pelo menos 1 vez por mês e 70% da pornografia é acessada em horário comercial.
Outros dados importantes: 75 % dos viciados em pornografia postam nudes regularmente; 80% das mulheres que descobriram que seus parceiros são dependentes de sexo sofreram depressão e 40% delas se afastam desses homens. Vale lembrar que nem todas as pessoas que acessam pornografia e outros conteúdos sexuais têm problemas devido aos acessos, mas a dependência de sexo virtual tem sido crescente, junto com os problemas que a dependência de sexo acarreta.
Formas de dependência de cybersex:
1. Masturbação mútua com outra pessoa via webcam, que pode ser com uma profissional performista ou com outra pessoa disposta a interagir.
2. Masturbação vendo imagens ou lendo histórias sexuais picantes postadas por outras pessoas, sem interação, como uma maneira de autoerotismo.
3. Liberação de fantasias sexuais em salas de bate papo próprias para isso, interagindo com outras pessoas com a mesma finalidade
4. Sexting, que é a prática de enviar e receber mensagens de texto, frequentemente acompanhadas de fotografias, áudios ou vídeos de conteúdo sexual. Esse tipo de prática talvez seja a que mais coloca em risco os relacionamentos estáveis, visto que pode vir a ser descoberta pela parceria da pessoa que as postam, levando a crises no relacionamento e mesmo ao divórcio. Sexting é uma expressão que se originou do inglês, das palavras “sex” e “texting“.
5. Teledildonic, que se refere aos uso de brinquedos sexuais, os chamados sextoys, para estímulo sexual virtual com outra pessoa
6. Sexo na realidade virtual alternativa, no metaverso, com uso de avatares, para interação sexual com os avatares de outras pessoas
Nunca é demais recordar que nenhum desses comportamentos acima listados caracteriza uma dependência de sexo virtual quando praticado de modo isolado ou eventual. A dependência de sexo, virtual ou não, se caracteriza pelo comportamento repetitivo, frequente e de difícil ou impossível controle voluntário, entre outros sintomas relatados neste e em outros artigos deste autor.
O início do vício em sexo virtual, como qualquer tipo de dependência, costuma ser lento, insidioso e progressivo, até chegar à dependência. O impacto depende da duração, extensão e do tipo de engajamento em cybersex. A ocorrência de qualquer sintoma abaixo pode indicar um problema com sexo virtual, mas quanto maior o número de sintomas, sua intensidade e frequência, mais provável o vício em sexo virtual.
Sinais e sintomas de dependência de sexo virtual
- Impacto negativo no bem estar físico e mental
- Prejuízos na vida social, com redução do nível de interação e socialização presencial, para assim poder permanecer online, podendo mesmo chegar ao completo isolamento
- Prejuízos financeiros por gastos excessivos com serviços de sexo virtual pagos, além da possibilidade de queda de produtividade ou faltas ao trabalho
- Incapacidade de interromper as práticas sexuais virtuais
- Infidelidade. Aqui é importante sublinhar que muitas pessoas que fazer sexo virtual acreditam que não se trata de infidelidade, pois não há contato físico. No entanto, as parcerias costumam se sentir profundamente abaladas e traídas por ocasião da descoberta
- Tendências aos extremos sexuais que o mundo virtual permite, aumentado os riscos conjugais, profissionais e financeiros
- Sentimentos crescentes de vergonha, culpa, remorso
- Desenvolver estresse, ansiedade, depressão e mesmo ideação suicida diante da perda de controle do comportamento sexual virtual
- Dificuldade para desenvolver intimidade e relacionamentos na vida real, principalmente para adolescentes e jovens que iniciaram a vida sexual acessando muita pornografia e interagindo sexualmente de modo virtual
- Arruinar relacionamentos outrora saudáveis
- Busca obsessiva de parceiros sexuais para práticas online
- Uso de anonimato para interações online
- Muito esforço para ocultar suas atividades sexuais online
- Cybersex como forma principal ou única de gratificação sexual. Muitos viciados em sexo virtual são solitários, muito tímidos, retraídos, com poucas habilidades sociais, com dificuldades de intimidade, e só se sentem capazes de interagir sexualmente de modo virtual
- Alto risco de passar a manter encontros sexuais reais, saindo do meio virtual. Muitos dependentes de sexo virtual temem encontros pessoais para praticar sexo devido ao risco de serem descobertos pela parceria e ao medo de perderem seus relacionamentos reais e sua famílias. Por isso fazem o possível para evitar cruzar a linha para o contato físico sexual.
Potenciais impactos da dependência de sexo virtual
Os impactos da dependência de sexo virtual podem ser muito importantes, afetando também outras pessoas, direta ou indiretamente. Pode ser considerado um ato de infidelidade, com suas graves consequências, e pode alimentar o tráfico de escravas sexuais. Leia abaixo alguns desses impactos potenciais:
1. Problemas de intimidade: A exposição ao sexo virtual em sua ampla variedade pode enfraquecer relacionamentos amorosos e sua conexão emocional, reduz as chances de obter e manter relacionamentos saudáveis e acaba por dar ao sexo um caráter genital, “animal”, separado da intimidade genuína. O Cybersex pode funcionar em uma via de mão dupla: pode levar à redução ou perda da intimidade com pessoas reais, mas a dificuldade de certas pessoas para estabelecer relacionamentos íntimos pode levar ao cybersex.
2. Problemas para relacionamentos estáveis: Distanciamento da parceria e dos filhos, brigas e discussões diante dos mesmos, amigos deixados de lado e finanças familiares afetadas.
3. Comprometimento do trabalho: Redução da produtividade devido a dificuldade de concentração em assuntos não sexuais; demissão por justa causa.
4. Contribuição para o tráfico de pessoas e para a escravidão sexual: Nem todas as pessoas, quase todas mulheres, que estão disponíveis em serviços pagos de cybersex consentem com as práticas sexuais que realizam em suas interações virtuais. Muitas inclusive são menores de idade, sendo obrigadas a tais atividades em cárceres privados de criminosos que mantêm sites sexuais sediados no exterior.
Como superar a dependência de sexo virtual
Caso esteja lendo esse artigo e perceba que você tem problemas de dependência de sexo, virtual ou não, procure auxílio profissional com um psiquiatra, principalmente que tenha formação em sexualidade humana e experiência no tratamento de dependência de sexo, de compulsão sexual. E faça isso antes que venha a comprometer seu relacionamento e a unidade de sua família. Caso tenha dificuldades importantes para socialização e intimidade também não deixe de procurar tratamento. Uma vida sexual saudável traz prazer, relaxamento, reforça os laços afetivos e melhora a qualidade de vida. A dependência de sexo tem início com a busca de prazer ou alívio de estados emocionais negativos, mas só traz prejuízos com o passar do tempo.
Texto de autoria do Dr. Lincoln Cesar Andrade. Permitida a reprodução e divulgação, desde que citada a fonte (autor e site).
Dr. Lincoln C. Andrade é Especialista em Sexualidade Humana pelo projeto sexualidade (PROSEX), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC/SP), com quase 16 anos de experiência atendendo pessoas solteiras e casais com problemas afetivos e sexuais. É também médico psiquiatra, com residência médica pelo hospital das clínicas da USP (HC/RP), especializado no tratamento de pessoas em crise emocional, estresse, ansiedade e pânico. Agendamento de consultas pelos fones (41) 996437333.