Após descoberta de infidelidade, os casais costumam vivenciar as consequências em 3 fases distintas: crise emocional, busca de informações e motivos da infidelidade e finalmente a definição do destino do relacionamento. Em artigos anteriores abordei as duas primeiras consequências, e neste artigo vou abordar 5 possíveis desfechos desses relacionamentos.
O destino de um relacionamento é algo muito difícil de prever após descoberta de infidelidade, pois são muitos os fatores que influenciam o desfecho da situação do casal. Entre esses fatores, podemos citar a história de vida pessoal e familiar de cada membro do casal, a história do relacionamento, crenças sobre relacionamentos afetivos e sexuais, religião, autoestima, autonomia, independência, saúde psicológica e física, existência ou não de filhos, etc.
Baseado na minha experiência de quase 17 anos atendendo crises emocionais por descoberta de infidelidade e também na literatura sobre o tema, relacionei abaixo 5 possíveis desfechos dos relacionamentos após descoberta de infidelidade, porém sem a pretensão de esgotar o tema, que é bastante complexo.
1. Término de relacionamento. Trata-se da situação em que a descoberta da infidelidade foi o evento que faltava em um relacionamento que já não funcionava bem, ou a perda da confiança foi avaliada pela parceria como definitiva, sem chance de perdão ou continuidade do relacionamento. Nesta situação, a lembrança da traição transforma-se no ” elefante na sala de estar”, uma espécie de fantasma que não para de assombrar a pessoa traída, que não encontrando saída, decide romper o relacionamento.
2. Casamentos que se mantém, mas se arrastam no sofrimento. Trata-se geralmente de uma situação em que os casamentos já são problemáticos previamente à descoberta da infidelidade, no qual a crise pode ser já crônica e não pontual nem transitória. Após a descoberta da infidelidade, o caso passa a ser o núcleo em torno do qual o relacionamento gira, sempre com acusações, cobranças, queixas, críticas, o que piora o que é ruim e estraga o que pode ser bom. Funciona como uma espécie de jogo, no qual culpar, se vingar e se vitimizar torna-se o funcionamento padrão de quem descobriu a infidelidade. Razões morais são usadas para acusar e agredir, e não há desculpas ou reparação que ajude. Devido a problemas de dependência emocional, problemas psicológicos ou de outra ordem o casamento não termina, e o sofrimento é garantido.
3. Casamentos que persistem com reforço do vínculo. São relacionamentos construídos sobre uma base forte de parceria, compromisso e consciência. Ambos os membros do casal valorizam muito a segurança, o que que é conhecido e o que construíram em conjunto (relacionamento, família, filhos, patrimônio). Os apelos afetivos e sexuais da terceira pessoa envolvida podem ser intensos, mas a qualidade prévia do relacionamento e aquilo que o casal valoriza em sua parceria é mais forte, levando ao término do caso e ao reforço dos valores e do vínculo do casal, mesmo causando muita dor e sofrimento.
4. Casamentos que se renovam e mudam para melhor. Esse desfecho costuma ocorrer entre parceiros que têm um diálogo bastante aberto e franco, que são capazes de analisar e avaliar os motivos e a participação de cada um no caso amoroso, e de buscarem melhorar o relacionamento, caso seja o desejo de ambos. Isso exige um alto nível de funcionamento mental e fortes laços afetivos, mas leva a um relacionamento renovado e mais significativo, dentro de um novo contrato conjugal.
6. Ruptura do relacionamento e novo casal formado com a terceira pessoa. Neste caso, geralmente a descoberta da infidelidade funciona como definidor de algo já desejado pelo parceiro infiel, precipitando a formalização do relacionamento antes oculto. Neste caso o infiel acaba necessitando enfrentar o divórcio, problemas com filhos, finanças, patrimônio, família e até com a indignação de amigos do casal. Para a pessoa que descobriu a infidelidade do parceiro o desafio é duplo e muito difícil: lidar com o sentimentos de rejeição, abandono, humilhação e baixa autoestima, além da perda da parceria e do sofrimento com a suposta felicidade do “ex” ao lado de outra pessoa.
Finalmente, é importante frisar que todas as situações acima geram muita dor psicológica e emocional para o casal e a família. Também é importante lembrar que não existe saída fácil para situações de descoberta de infidelidade, muitas vezes necessitando de auxílio profissional para evitar erros de avaliação e atitudes precipitadas, as vezes desastrosas.
Texto de autoria do Dr. Lincoln Cesar Andrade, baseado em sua experiência clínica e em Esther Perel, “The State of Affairs, rethinking infidelity, HarperCollins, 2017. Permitida a reprodução e divulgação, desde que citada a fonte (autor e site).
Dr. Lincoln C. Andrade é Especialista em Sexualidade Humana pelo projeto sexualidade (PROSEX), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC/SP), com quase 17 anos de experiência atendendo pessoas solteiras e casais com problemas afetivos e sexuais. É também médico psiquiatra, com residência médica pelo hospital das clínicas da USP (HC/RP), especializado no tratamento de pessoas em crise emocional, estresse, ansiedade e pânico. Agendamento de consultas pelos fones (41) 996437333.