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Clínica de tratamento em Curitiba para crises emocionais, estresse, ansiedade, pânico, depressão e problemas afetivos e sexuais

Compulsão sexual (donjuanismo, satiríase e ninfomania)

A perda de controle sobre pensamentos sexuais, fantasias, impulsos ou comportamentos pode causar uma variedade de consequências negativas a uma pessoa e/ou sua parceria, vindo a se tornar uma razão importante para a procura de um profissional de saúde sexual. Esse tipo de funcionamento sexual já foi descrita na literatura médica sob diferentes termos, como adição sexual, compulsão sexual ou comportamento sexual impulsivo- compulsivo, hipersexualidade não parafílica, transtorno hipersexual e erotomania.  A compulsão sexual pode acometer homens, quando é denominada popularmente de satiríase ou donjuanismo, e também mulheres, conhecida então como ninfomania. Atualmente  faz parte de um grupo maior conhecido como comportamentos sexuais fora do controle. Neste artigo vamos utilizar o termo “Transtorno do comportamento sexual compulsivo (TCSC)”.

O transtorno do comportamento sexual compulsivo (TCSC) se caracteriza por alguns e, as vezes, todos os componentes abaixo:
  1. Pelo menos seis meses de intensos pensamentos. fantasias, impulsos ou comportamentos repetidos sobre sexo e relações sexuais
  2. O tempo consumido com esses pensamentos. fantasias, impulsos ou comportamentos sexuais repetitivos interfere com outras importantes atividades, metas e obrigações não sexuais
  3. Engajamento repetitivo em pensamentos, fantasias sexuais, impulsos ou comportamentos como resposta a um estado de humor desagradável  (ansiedade, depressão, tédio, irritabilidade)
  4. Engajamento repetitivo em pensamentos, fantasias sexuais, impulsos ou comportamentos sexuais como resposta  a eventos de vida estressantes
  5. Busca compulsiva por contatos sexuais
  6. Disposição e entrega cada vez mais intensa e frequente para obter satisfação sexual
  7. Mal estar físico e/ou psicológico ao tentar reduzir ou controlar a atividade sexual
  8. Muito tempo, energia ou dinheiro utilizado com atividade sexual, masturbação ou em busca de estímulo sexual, como pornografia por exemplo.
  9. Fracasso ao tentar controlar a compulsão sexual
  10. Exposição e comprometimento da imagem pessoal, dos relacionamentos ou do trabalho devido ao descontrole sexual
  11. Persistência do comportamento mesmo com prejuízo evidente
  12. O comportamento sexual não se deve a ação direta do uso de substâncias como drogas de abuso e medicação

Estima-se que entre 3 e 6 % da população adulta sofre com TCSC, com uma proporção de 4 homens para cada mulher, e que seja muito mais frequente entre agressores sexuais.

Outras manifestações clínicas dos comportamentos sexuais fora de controle:
  1. Dependência de pornografia, geralmente acompanhada de masturbação compulsiva é a mais comum manifestação sexual do TCSC, em uma proporção estimada de 70% de homens e 30% de mulheres compulsivas sexuais
  2. Interações sexuais variadas com terceiros através de diferentes recursos técnológicos, como serviços sexuais pagos, aplicativos de encontros, clubes de strip, sexo por telefone e cybersex. Este último através de salas de bate papo eróticas, webcams, compartilhamento de conteúdo erótico e pornográfico, etc.
  3. Promiscuidade extensiva, com busca crescente de novidades sexuais, incluindo variantes com sexo a três, troca de casais, sexo grupal, sexo com profissionais do sexo e práticas sexuais as vezes  bizarras em seu extremo, como, por exemplo, zoofilia. Muitas vezes a prática sexual não é acompanhada de cuidados para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, as IST´s, principalmente o vírus HIV. 
  4. Incompatibilidade grave do desejo sexual com sua parceria, onde o membro do casal com TCSC quer ou exige sexo quase todos os dias, e a parceria se sente sexualmente explorada, humilhada ou mesmo estuprada

 

Pessoas que sofrem de TCSC devem ser diferenciadas de pessoas com alto desejo sexual, e a principal diferença é que pessoas com desejo sexual alto sem TCSC têm controle sobre o seu funcionamento sexual e em geral são mental e emocionalmente saudáveis. Já as pessoas com TCSC tem controle falho sobre seu comportamento sexual e apresentam uma taxa elevada de ansiedade sexual, depressão sexual, necessidade de controle sexual externo e medo de relacionamentos. Quanto mais grave o comportamento sexual compulsivo menor a autoestima, o controle sexual voluntário, a consciência, a assertividade e a satisfação com a vida.

Desregulação emocional é comum no TCSC e contribui para sua ocorrência. Assim, comorbidades psiquiátricas são muito frequentes no TCSC, entre elas depressão, fobia social, abuso de substâncias e transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Devido a sua natureza relaxante e recompensadora, o sexo pode acaba sendo usado como mecanismo de enfrentamento de estados emocionais negativamente carregados por pessoas com TCSC, o que se mostra totalmente ineficaz. 

As causas da compulsão sexual tem fatores biológicos, psicológicos e sociais, e o tratamento tem similaridade com o tratamento de dependentes químicos, pois envolve a busca de autocontrole, mudança de estilo de vida, lidar com frustração e frequentemente o uso de medicamentos. Em 2019 cientistas do instituto Karolinska na Suécia isolaram parte de um gene humano que pode ser a causa biológica do TCSC, mas ainda sem confirmação.

Tratamento

O homem com TCSC muitas vezes recebe reforço positivo de seus amigos homens, com se fosse uma espécie de “supermacho”, o que contribui para o problema. Mulheres costumam esconder o comportamento devido ao risco do estigma social de promíscuas.

Um dos grandes desafios para a busca de tratamento é a pessoa com TCSC perceber que se trata de um grave problema sexual, com consequências potencialmente desastrosas, visto que muitas delas apreciam demais os prazeres e recompensas sexuais que obtêm, além do alívio temporário dos estados emocionais carregados negativamente. 

Portanto, o primeiro passo para o tratamento é admitir que o problema é real e precisa ser modificado, e aceitar a redução do prazer sexual como pré-condição para vir a ter uma vida equilibrada . Como em qualquer comportamento compulsivo, isso exige comprometimento e determinação, sem o que não é possível superar a compulsão. Na maioria dos casos o paciente procura o psiquiatra ou sexólogo após sua parceria descobrir seus comportamentos sexuais e o relacionamento entrar em grave crise. Outras vezes devido a problemas no trabalho, como assédio sexual, ou mesmo problemas legais. 

O tratamento costuma ser bastante longo e pode envolver psicoterapia prolongada, individual ou de casal, medicamentos, grupos de apoio, contrato com a parceria, monitoramento e prevenção de recaída.

Quando adequadamente tratados, os pacientes não apenas não se queixam da perda do prazer sexual, como ficam aliviados e agradecidos pela vida mais plena e equilibrada que passam  a ter.

 

Texto escrito pelo Dr, Lincoln c. Andrade*

Permitida a reprodução e divulgação, desde que citada a fonte (autor e site)

Dr. Lincoln C. Andrade é Especialista em Sexualidade Humana pelo projeto sexualidade (PROSEX), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, com quase 15  anos de experiência atendendo pessoas solteiras e casais com problemas afetivos e sexuais. É também médico psiquiatra, com residência médica pelo hospital das clínicas da USP (HC/RP),  especializado no tratamento de pessoas em crise emocional, estresse, ansiedade e pânico.  Agendamento de consultas pelos fones (41) 996437333. no extremo